E não vai demorar muito….
Mas afinal, o que se passa com a agilidade que cada vez mais está com menos credibilidade e virou piada dentro das empresas e no mercado?
Neste artigo eu vou expressar a minha opinião baseada na minha experiência do Brasil, Portugal e de alguns conhecidos espalhados pelo mundo. Bora lá então!
Quem leu meu artigo sobre a Origem do Agile Manifesto vai se lembrar que o Manifesto foi criado para “encontrar as melhores alternativas para a gestão do desenvolvimento de software”.
Percebam que nesta época (2001), já existia o Scrum, Extreme Programming (XP), Crystal e Lean como novas técnicas de gestão de projetos de desenvolvimento de software, que hoje sabemos que fazem parte da origem do Agile. E ainda sim foi necessário 17 pessoas se juntarem para partilhar experiência sobre o tema e alinhar uma nova forma de fazer gestão de software.
Desde então, com o passar dos anos, os métodos ágeis ganharam mais espaço, principalmente porque foram fortemente utilizados por startups do Vale do Silício como Google, Amazon e outras. Principalmente o Scrum, que teve seu “boom” a partir de 2014 mais ou menos.
Até aqui estamos alinhados, correto? Acredito que a maioria conhece a história do Agile e Scrum.
A partir de agora vou começar a partilhar minha experiência e opiniões que começam na época que ainda estava no Brasil e se estendem para Portugal.
Apesar de eu ter tido meu 1º contacto com Agile/Scrum em 2011, foi somente em 2017 que entrei de cabeça neste mundo e até 2 anos atrás era Deus no céu e Agile na Terra. Pois é, eu achava que o Agile iria resolver todos os problemas dos clientes e empresas que estava a trabalhar. E não foi bem assim.
Obviamente o meu trabalho com Agile ajudou imenso os projetos e clientes que trabalhei entretanto sempre tinha um MAS.
MAS o Product Owner está envolvido em vários projetos ao mesmo tempo;
MAS o Scrum Master está envolvido em vários projetos ao mesmo tempo;
MAS o C-LEvel não prioriza as iniciativas e temos dezenas de projetos em paralelo;
MAS os middle managers “não querem” delegar e empoderar;
MAS acabou o orçamento, então despede a malta do Agile porque eles não entregam valor….
Essa frase machuca: “não entrega valor” e infelizmente estou a escutá-la desde 2022 sendo que em 2023 ela ganhou força em Portugal e no Brasil. O pior não é só escutar, é de perceber a quantidade de agilistas (Agile Coaches, Scrum Master e Product Owners) que estão a ser demitidos nos layoffs sendo que o critério de seleção dessas roles/funções é de não entregar valor.
Para dar um exemplo, na semana de 25 a 29 de Setembro de 2023 a Talkdesk (unicórnio Português) demitiu cerca de 150 pessoas sendo que aproximadamente 50% da equipa de agilidade foi nessa barca. Ou seja, são dispensáveis. Todos somos, é claro, mas vou explorar um pouco mais o motivo do agile ser dispensável.
Ao conversar com algumas pessoas que perderam seus empregos e também com muitas que ainda estão trabalhando, o padrão que ficou claro é que as empresas esperam mudanças e resultados imediatos ao começar a usar Agile.
Exemplo: Um amigo meu estava trabalhando como Enterprise Agile Coach para uma empresa dos EUA por 3 meses e foi demitido de um dia para o outro porque “estava dando coach para empresa e nada havia mudado ainda”. Eu sei que os americanos querem resultados rápidos mas 3 meses não dá tempo de fazer quase nada.
Outro exemplo foram alguns projetos que trabalhei aqui em Portugal que estavam muito atrasados, e ao começar a trabalhar com equipas agile, os stakeholders queriam entregas e resultados 2 sprints após iniciar o novo formato. E ainda vinham com a frase:
“Agile é rapidinho e tem que entregar resultados em 2 semanas”.
Vai te catar!!!! Essa malta fica meses discutindo temas sem chegar a uma conclusão e depois nós temos que operar milagres em 2 semanas.
Por outro lado, quando começamos os trabalhos, vamos ganhando tração, entregamos resultados e apresentamos métricas e evidências que o “upstream é bottle neck”, cortam-nos as cabeças ou se esquivam com desculpas esfarrapadas.
Outro problema é que estes stakeholders querem que o agile resolva os problemas dos atrasos dos projetos deles, mas quando apontamos problemas e sugestões de melhorias nos processos que tocam na área deles, eles não gostam (ninguém gosta).
Com as métricas, experiência e evidências que tenho, com 6 meses de coaching já é possível ter uma equipa a trabalhar bem com Agile, mas ela só vai conseguir entregar resultados mais expressivos se começarmos a melhorar os problemas sistêmicos. E isso só é possível se tivermos suporte dos stakeholders, que na maioria das vezes não nos dão este suporte e a agilidade fica restrita em colocar algumas equipas em trabalhar com agile (scrum) para resolver o atraso de uma entrega.
Outro fator que colabora com a percepção da não entrega de valor são os “agile-fluffys”, que são os agilistas “abraçadores de árvore” que acham que o ágil é um conto de fadas, focam muito mais nas pessoas do que nos resultados de negócio. Esses são os que mais atrapalham porque a grande maioria não trabalha com métricas e evidências dos resultados da equipa e depois não conseguem justificar os resultados que tiveram (se é que tiveram).
Aí complica!!!
No final do dia, não importa a forma de trabalhar que uma empresa utiliza porque o objetivo é de obter resultados e muita gente do agile deixou isso de lado e/ou não consegue tangibilizar estes resultados (eu já contribuí para este problema).
Este é o ponto que muitos vão começar a criticar meu artigo e vão falar de métricas de Lead Time, Cycle Time, Throughput, CAC, MAU, DAU, WAU, AARRR e umas outras mais, mas eu faço uma pergunta: Quanto de dinheiro essas métricas trouxeram para o negócio? Se você não souber responder na ponta da língua, a casa caiu!
Meus amigos e minhas amigas, não adianta nada melhorarmos os processos e termos métricas lindas se não conseguirmos conectar essas métricas com resultados de negócio e deixar os stakeholders felizes.
Hoje em dia eu concordo muito com o Jerry Maguire: “Show me the money”. E não é à toa que minha forma de pensar e trabalhar mudou radicalmente pois acredito que o Agile vai continuar a perder força e credibilidade mas também acredito que não vá morrer porque é uma forma muito boa de se trabalhar.
Eu acredito que a junção das funções de Project Manager e Agile Coach (Scrum Master, Product Owner) são complementares e devem estar embutidas no mesmo profissional. O principal motivo são os GAPS que percebo em ambos os profissionais quando atuam separadamente. Gaps que são complementares e não faz sentido ter 2 pessoas a trabalhar nos temas sendo que poderia ser 1 pessoa a fazer isso.
Minha aposta é que já está acontecendo esta convergência de funções entre Project Management e Agile pois conheço vários “ex-agile coaches” voltando a trabalhar como Project Manager.
Eu mesmo já me antecipei à “decadência do Agile”, migrei de função e estou a trabalhar como Program Manager. Uma coisa posso garantir para vocês: Eu nunca fui tão ágil como sou hoje sendo um Program Manager (vou escrever sobre isso em outro artigo).
Para concluir, eu acredito que entre 1 ano ou 2 o Agile vai perder muita relevância e que uma “nova maneira” de trabalhar vai emergir. Só que desta vez não vou cometer o mesmo erro de achar que será a nova salvação do mundo.
A dica que posso partilhar é que estudem e pratiquem Agile, Project Management e invistam nas suas carreiras em outras especialidades pois conhecimento nunca faz mal. Estar preparado para mudar é sempre a melhor opção que podemos ter.
A bolha do agile vai estourar e quando acontecer, o que você vai fazer?
Pense nisso!
Espero que tenham gostado do artigo e que postem suas opiniões.
Nos vemos nos próximos artigos mas lembrem-se de se inscrever em nossa newsletter para receber nossos conteúdos e novidades.
Até breve.
Referências:
Autor:Ricardo Caldas
Bom resumo da realidade, transmitido com uma linguagem crua e direta, muito particular do Ricardo. Gostei da análise e vejo acontecer todos os dias várias das situações descritas.
Resta-nos de facto tentar mudar a mentalidade, aprender a comunicar e saber combinar o melhor de cada um, com o mais adequado das diversas formas de trabalho, tendo sempre um propósito: a entrega de valor!
Grande artigo Ricardo! Concordo com tudo. As pessoas pensam que Agile é uma receita milagrosa e que só de a usar os problemas ficam resolvidos e os resultados acontecem no dia seguinte. Agile é um mindset e, ou estão todos envolvidos e a coisa após alguns meses ou anos de treino, de experiências e de falhas fica entranhada na forma como trabalhamos e vemos os projetos ou então vamos entrar no ciclo vicioso atual de que não há resultados. Fiz uma pós graduação em Agile Project Management e uma coisa que me marcou foi quando quase no final do curso alguém perguntou porque é que tinhamos um projeto para fazer e o que tinha ele a ver com Agile. Marcou…
Mas agile não entrega valor mesmo ué... quem questiona isso não sabe o que é agile, nem o que é valor. Vai sobreviver só agilista que sabe fazer conta, esses oba oba de "cewrimônias, cadências e beaultiful people" já vem caindo exponencialmente faz uns 3 anos... apenas tá acelerando agora que a torneira fechou.
Entendo que precisa haver equilíbrio, quando fui Gerente de Projetos, as pessoas que líderes em projetos tenho amizade até hoje, faziam festa surpresa, não por que eu era melhor, mas sempre valoreizei e foquei em pessoas além de processos. Pois estas são as pessoas que irão entregar o valor tão desejado pelo cliente. Hoje tenho pessoas que gerenciei por todo o mundo. Não importa o método ou forma que trabalha, mas sim como trabalha, foco em valores e em pessoas, pois elas trarão o desejado valor para o cliente.
Abraço
Com este pensamento de que não tem que focar nas pessoas e sim nos processos, realmente a agilidade vai acabar mesmo. Os processos são criados por quem? E falham por causa de quem?
Você não obriga alguém a fazer algo. Você cria uma cultura de trabalho nesta pessoa.
Voltemos então aos tempos modernos de Chaplin... vamos apertar parafusos e não precisamos mais pensar, afinal, pra que pessoas pensantes se temos o chatgpt pra isso